O momento atual, 2021 – um ano em que não há eleições -, amarra algumas situações que valem ser observadas a partir do que se deu nos anos anteriores, isso sem perder de vista 2022. Afinal, chegar a este ponto (lastimável) foi um processo. E uma avaliação sobre envolvimento ou comprometimento de determinados setores da sociedade, mesmo que não tão aprofundadamente, pode evidenciar algumas escolhas de ações, ou inações, cujas consequências vieram. E a cavalo! Ou melhor, num outro quadrúpede…

Conforme já mencionado, a luta aqui é antirracista. E isto implica em viver. Mais que isso, viver dignamente. Portanto, se há ainda quem não perceba que a parcela da população brasileira que mais sofre com a negligência no combate ao corona vírus, assim como em todos as outras esferas além da saúde, tais quais educação, emprego, moradia entre outras é a parcela não-branca, esta pessoa provavelmente está empenhada em não perceber uma realidade ululante que se dá por fatos e inúmeras questões históricas. Convém destacar também que, quando citadas “questões históricas”, não se tratam apenas de fatos como a escravização de pessoas negras a partir de meados de 1550 até 1888. Tratam-se também de questões de ontem e deste exato momento.

Importante! Neste ponto é importante ressalvar a quem destina-se este texto antes de tratar especificamente sobre envolvimento e comprometimento. Destina-se a quem almeja se se observar e agir em prol a batalha diária em nome de uma sociedade mais justa, igualitária e pacífica. Destina-se a quem se propõe à troca de ideias. Não se pretende dar “murro em ponta de faca”.

Em 2021, o Estado do Amazonas, que já sofria com a falta de leitos nos hospitais, teve que assistir seu povo morrer pela falta de oxigênio na segunda onda do Sars-CoV-2, o COVID-19. Aproveitando uma oportunidade lucrativa da demanda, em detrimento da vida, aumentaram-se os impostos sobre os cilindros de oxigênio pouco antes do colapso. O aumento foi revertido. Mas houve. Por outro lado, os encontros com empresários e lobistas armamentistas foram frequentes. Eis o reflexo de uma mentalidade que se pretende hegemônica nos dias atuais e um exemplo do comprometimento entre políticos e empresários.

Quase concomitantemente à tragédia no Amazonas, São Paulo inicia sua campanha de vacinação. Antes dos outros Estados do país e driblando os diversos entraves para a compra, quiçá sabotagem ,fruto do envolvimento, ou comprometimento com uma agenda macabra, do Governo Federal e Ministério da Saúde, recheados de militares. Que futuramente seriam descobertos banhando-se em rios de leite condensado. Entre vários outro escândalos, diga-se de passagem. Além da incompetência retumbante, não faltam motivos para não merecerem seus cargos. 

Óbvio que quem mais ganha com a vacinação é a população paulista. Vidas serão salvas. E isto é indiscutível. Entretanto, há também uma vitória política. Principalmente para o Governador de São Paulo, afinal houve envolvimento dele, que não perde de vista 2022. E comprometimento dos cientistas.

A propósito, todo agradecimento aos profissionais da saúde, cientistas, pesquisadores e cada pessoa que colocou seu comprometimento acima de tudo para derrotar a pandemia de covid-19.

O mesmo governador de agora, responsável de outrora por demolir um prédio ainda ocupado por moradores, que queria dar ração de merenda para as crianças nas escolas e que enviou a Polícia Militar avançar contra protesto do professorado do Estado, resultando em muito sangue de trabalhadores e trabalhadoras derramado. A mesma polícia que vem matando cada vez mais e prendendo cada vez menos.

Regressando um pouco mais, no final de 2020, mais um dentre tantos absurdos: o Estado do Amapá ficou semanas sem energia elétrica. Em meio à pandemia, vale frisar. Cidades inteiras foram impactadas por esta falha, quilombos, aldeias, pessoas idosas, doentes, muita gente ficou incomunicável, não pode receber atendimento médico, enfim, energia elétrica é essencial e um Estado inteiro ficou sem. Quase. As áreas mais ricas tinham energia elétrica, geradores. Comprometimento com os setores mais abastados da sociedade em detrimento da vida de populações menos favorecidas.

Esta falha gigantesca tem seus responsáveis, assim como quem deixou a situação se arrastar por tanto tempo. Isto é política pública e tem a ver com o efeito do envolvimento de empresas privadas em serviços essenciais

Este são apenas alguns exemplos dos diversos casos de negligência por parte do Estado que colocam em risco grupos étnicos e minoritários inteiros. Não somente no que tange ao combate à pandemia,  mas também em outras questões como demarcação de terras, racismo estrutural, violência urbana, violência contra mulher, homofobia, moradia, saneamento básico, emprego de uma lista que se arrasta.

Eis que então duas perguntas são sugeridas: 1) Será que o estrago poderia ter sido menor? 2) Será possível que este estágio se repita ou piore? 

A resposta é sim para ambas. E existem vários argumentos que sustentam que poderíamos, por exemplo, ter evitado tantas mortes. E, se não houver uma atitude diferenciada por parte da sociedade, a situação se repete e piora. Assim tem se mostrada a história.

Todavia, não se trata de uma mudança da sociedade em sua totalidade. Isto seria utopia. Trata-se da parcela da sociedade comprometida em agir pela construção de um futuro. Mais que isso, faz-se necessário também um de diálogo franco com a parcela envolvida neste processo esperando por um futuro melhor. Mas, como já diria Vandré,

esperar não é fazer. 

Geraldo Vandré – “Pra não dizer que não falei das flores”

Envolvimento ou comprometimento?

Para ilustrar a diferença entre se comprometer e se envolver contar a fábula do Porco e da Galinha serve . Na alegoria, a Galinha propõe uma sociedade com o Porco para abrirem um restaurante que servisse ovos e pernil. O Porco se nega, pois observa que a Galinha estaria apenas envolvida. Após botar o ovo, poderia seguir sua vida normalmente. Já o Porco, estaria direta e completamente comprometido com possível produção dos pernis…

Envolvimento e Comprometimento
Envolvimento e Comprometimento

É possível transpor a analogia para o cotidiano, mais especificamente para as ações cuja finalidade são de combate ao racismo, ao fascismo, aos genocídios, à preservação do meio ambiente entre tantas causas grandes, importantes e urgentes. E, por conseguinte, buscar em si uma resposta honesta que reflita seu posicionamento quanto a estas questões. Envolvimento ou comprometimento.

Neste ponto, o direcionamento deste texto afunila-se um pouco mais. Se a princípio destinava-se à quem se dispusesse a trocar ideias, de agora em diante, a conversa será sobre atitude e postura. 

Ou seja, o que não faltam são exemplos de comprometimento em causas destrutivas, que resultam em mortes evitáveis, violência, degradação do meio ambiente, desinformação etc.

Em 2018, o percentual dos votos nulos, brancos e abstenções foram os maiores desde 1998. Uma parcela significativa da população – grande parte instruída, privilegiada e com acesso à informação – que poderia ter feito a diferença e hoje, provavelmente o Brasil não seria capitaneado para a pior gestão do mundo contra a COVID-19, muitos outros males poderiam ser evitados, inclusive a disseminação de desinformação, negacionismo e fanatismos religioso poderiam ser evitados, ou minimizados ao invés de estimulados.

Faltou comprometimento.

Alienação eleitoral no Brasil cresce mesmo antes do fechamento das urnas
Imagem: Gazeta do Povo

Em 2020, a Loja Axé registrou e divulgou alguns pedidos de ajuda do povo Kokama, do Estado do Amazonas. A quem quiser e puder ajudar, seguem os dados:

Federação Indígena do Povo Kukami-Kukamiria do Brasil, Peru e Colômbia – TWRK.

CNPJ (MF): 16.862.108/0001-23
Presidente Glades Rodrigues Ramires CPF: 416.424.732-00 Banco: Caixa Econômica Federal (PJ) Agência: 3196 Conta Poupança: 0021002-9
Se preferir doar diretamente alimentos ou materiais de higiene, entre em contatos: Cacique Edney Kokama +55 97 98412-4115 Glades Kokama +55 97 99184-0332 Milena Kokama +55 92 98211-0265 Eladio Kokama + 55 97 9171-5564 
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